O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás, a luz, o telefone, a sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão. O funcionário público não cabe no poema, com seu salário de fome, sua vida fechada em arquivos.
Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras.
Porque o poema, senhores, está fechado: “ NÃO HÁ VAGAS “.
Só cabe no poema o homem sem estômago, a mulher de nuvens, a fruta sem preço.
O poema, senhores, não fede nem cheira.
(escrito por FERREIRA GULLAR)
\0/F.B.\0/

 
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